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Brasileiros pretendem se endividar para conseguir comprar presente do Dia dos Pais Brasileiros pretendem se endividar para conseguir comprar presente do Dia dos Pais
Tradição e pressão social influenciam no comportamento de consumidores; segundo pesquisa, 35% dos que pretendem presentear estão alguma conta em atraso e 66% deles têm nome negativado
Por Werbete | 06/08/2023 - 17h03
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Inaugurando as datas comemorativas do segundo semestre de 2023, o Dia dos Pais será celebrado no próximo domingo, 13. E o comércio brasileiro está com altas expectativas para a comemoração, com a recente melhora de índices econômicos no país. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) estima que 110,5 milhões de consumidores comprarão presentes. O número representa um aumento de 8,7 milhões em relação a 2022. Contudo, as expectativas não se traduzem necessariamente no aumento do poder de compra da população, já que 12% pretende deixar de pagar alguma conta para realizar a compra. Além disso, o levantamento releva que 35% dos que irão presentear seus pais estão com o pagamento de alguma conta em atraso, sendo que 66% destes também estão com o nome negativado.

José César da Costa, presidente da CNDL, observa um aumento no interesse em consumir, mesmo com a percepção de que os produtos estão mais caros. O levantamento mostra que 36% dos entrevistados pretendem gastar mais que em 2022. Dentro deste grupo, 41% quer comprar presentes melhores, 40% acredita que os preços dos produtos estão mais altos e 28% quer comprar mais presentes. “Os consumidores estão mais confiantes em relação ao momento econômico do país, que começa a apresentar melhora nos índices econômicos. Esse cenário contribui para o aumento do consumo das pessoas. Percebe-se uma diferença no poder de compra do consumidor, que pode ter sido estimulado pela diminuição do desemprego. Apesar da renda ainda ser baixa, temos hoje uma situação mais positiva em relação à geração de emprego e renda das famílias”, avalia.

Entre os principais itens procurados para presente estão roupas, perfumes e cosméticos, calçados e acessórios. Um estudo da Circana, empresa de data tech para análise do comportamento do consumidor, estimam que deve haver um crescimento principalmente no segmento de fragrâncias. Ana Seccato, diretora comercial da Circana, pontua que a tendência foi observada em agosto de 2022 e deve se repetir este ano. “As fragrâncias sempre estiveram listadas entre os produtos favoritos de presenteáveis. Observamos também uma preferência por tamanhos superiores a 100ml. Os homens tendem a ser mais fiéis a um produto em específico, de maneira que optam em comprar tamanhos maiores pelo custo-benefício. Além disso, o público masculino tende a utilizar o produto de forma mais generalizada; por isso, consomem maiores quantidades em menor tempo”, esclarece.

 

O perigo da inadimplência e de golpes

Os dados da CNDL também revelam que o valor médio investido será de R$ 244 e que a maioria dos consumidores pretende comprar mais de um item. Além do próprio pai, muitas pessoas compram presentes para o marido, o pai dos filhos e para o sogro.  Contudo, a pesquisa releva que 26% dos entrevistados costumam gastar mais do que podem com os presentes de Dia dos Pais e 12% pretendem deixar de pagar alguma conta para realizar a compra. Administrador e especialista em comércio varejista, Gustavo Medeiros pondera que é importante reconhecer que este comportamento de consumo pode ser motivado por uma variedade de fatores, incluindo a tradição cultural de dar presentes em datas comemorativas e a pressão social para demonstrar afeto por meio de lembranças tangíveis.

“Entretanto, este comportamento também aponta para questões mais amplas sobre a economia. Pode indicar um nível de desespero financeiro em que as pessoas estão dispostas a comprometer sua saúde financeira a longo prazo para atender a obrigações imediatas. Isso pode ser exacerbado por questões mais amplas, como desemprego, inflação alta, falta de acesso a crédito de baixo custo e a pressão de altos custos de vida. Também é importante considerar que, na atual economia do Brasil, muitas pessoas podem estar se endividando porque veem poucas alternativas. Se o crescimento econômico é lento e as oportunidades de emprego são limitadas, as pessoas podem acreditar que se endividar é a única maneira de atender suas necessidades e desejos”, pontua.

Ele ainda indica que essas tendências são preocupantes e apontam para a necessidade de políticas públicas e estratégias de educação financeira mais robustas. Segundo o especialista, é essencial a monitorar esses comportamentos de consumo e suas causas subjacentes. José César da Costa complementa que o país enfrenta um longo período de alta na inadimplência e que a prioridade deve ser o pagamento das contas em atraso. “Os consumidores precisam planejar os gastos e fazer muita pesquisa. Eles estão atentos aos preços e promoções. O brasileiro tem a tradição de presentear nas datas comemorativas, por isso o comércio tem uma boa expectativa em relação às vendas. A primeira data comemorativa do segundo semestre funciona como um termômetro para o setor que acompanha as tendências de compra dos consumidores para as festas de final de ano. A pesquisa traz ânimo uma vez que aponta que os consumidores deverão gastar mais este ano”, pondera José.

Rafael Fontenele, advogado especialista em direito do consumidor do Kolbe Advogados e Associados, alerta para o aumento de possíveis golpes no período. Ele recomenda que o consumidor fique atento e desconfie de ofertas muito vantajosas e distantes daquelas praticadas no dia a dia. “Recomenda-se atenção aos sites clonados de grandes empresas, que por vezes são iguais ao original, com pequenas alterações no domínio do site, bem como a busca na internet por opiniões de outros consumidores, quando o site ou loja forem desconhecidos. Se mesmo assim algo não acontecer como o esperado, não deixe de denunciar a fraude em plataformas digitais especializadas, recorrer ao Procon e até mesmo a delegacias especializadas no combate a crimes contra o consumidor”, orienta.

 

Fonte: G1